terça-feira, 18 de novembro de 2014

DILMA NA ENCRUZILHADA

POLITICANDO



     Depois da eleição acirrada, que ganhou por uma margem de três milhões de votos, num universo de 142 milhões, Dilma fez um belo discurso de vitória.
     Parecia que era a primeira vez que Dilma falava por si própria, libertando-se do papel de candidata do PT, agora que já tinha conquistado seu último  e derradeiro mandato. É claro que ela fez questão de render a homenagem devida a seu mentor, o ex-presidente Lula, demonstrando que não é pessoa de esquecer quem lhe deu a mão nos momentos mais difíceis.
     Mas na primeira entrevista após voltar ao trabalho, quando perguntada sobre uma declaração agressiva do Partido dos Trabalhadores a respeito das oposições, ela fez questão de dizer que não representava o partido, mas governava para todos os brasileiros.
     Para os bons observadores, parece evidente que o PT se tornou um problema a mais para a presidente Dilma. Aliás o Partido só criou problemas para ela durante a campanha e se não fosse o despertar da militância, quando perceberam que a vitória da direita era uma possibilidade real, provavelmente o barco teria naufragado, entregando o ouro da nação aos bandidos do PSDB e do DEM.
     Mas o fato é que Dilma não terá outra alternativa para se livrar do PT, sem parecer uma traidora, a não ser promovendo uma profunda reforma política, que desemboque na estruturação do novos partidos, dentre eles um novo partido de centro esquerda capaz de aglutinar o que há de mais ideológico na sua base, isolando os oportunistas que se escondem em legendas de aluguel ou no grande e disforme corpo do PMDB.
     E a única maneira de fazer isso é levando adiante um projeto que vai causar grande celeuma nas oposições:, o da Constituinte Revisora, Livre e Soberana. Foi ela, Dilma, quem lançou a proposta durante os protestos de 2013, como forma de fazer as reformas necessárias no país. É claro que a direita imediatamente chiou. Não querem mudanças para avançar, mas apenas para retroagir a um país dominado por uma elite podre.
     O próprio PT quer restringir a Constituinte à reforma política, impedindo que ele avance sobre outros privilégios das elites, com a reforma urbana, da educação, da saúde, dos monopólios da mídia e a reforma tributária, destruindo velhos privilégios que impedem o progresso do Brasil.
     Vai ser uma decisão difícil. Se ela se render ao corporativismo do PT e aliados, a reforma da Constituinte mais uma vez só vai contemplar os interesses dos poderosos, desembocando num gigantesco conchavo. Se ela avançar para a Constituinte Livre e Soberana, terá de enfrentar a batalha contra todos os interesses corporativos que se unirão contra ela, mas se libertará das amarras do PT e poderá angariar um grande apoio popular, levantando a juventude de 2013 a seu favor, em direção à construção de um novo país.
     Para quem já enfrentou tantos desafios como ela, isso não é impossível.

PAPO DE ARQUIBANCADA

(Ré) Começo

Dunga


         Meus amigos, o objetivo de Dunga em 2014 foi alcançado: a seleção brasileira ganhou todos os amistosos sob seu comando. Claro que não estamos levando em conta a qualidade dos adversários. O técnico da seleção, ao invés de testar jogadores - o fez apenas nos últimos amistosos, para poupar os atletas que jogam no Brasil - utilizou a base do time de Felipão para obter êxito neste começo de trabalho. A seleção brasileira jogou um futebol burocrático e não convenceu ninguém. Um meio campo pegador e um ataque dependente do brilho de Neymar, além de uma defesa formada por laterais poucos técnicos foi a marca do recomeço. A cartilha do novo comandante foi o que vimos de mais positivo: jogadores comportando-se como atletas e não como estrelas de comerciais. Caretas em "selfs" e choros gratuitos foram abolidos, graças a Deus ! Tomara que o Dunga seja mais ousado em 2015 e coloque a seleção com um pouco mais de qualidade no meio campo, embora não veja, atualmente, uma safra de jogadores muito criativa. Gostaria muito de ver o garoto Talisca, ex Bahia, atuando como volante, mas, pelo que vimos, o baiano não enche muito os olhos do comandante. #Ficaadica.





CLIPE DA SEMANA

O clipe desta semana é da canção QUEM ME LEVA OS MEUS FANTASMAS, com a interpretação magnífica de Maria Bethânia. Imperdível !

Maria Bethânia

APARTHEID URBANO


Apartheid urbano
As superquadras do Plano Piloto em meio a verdadeiros parques

Brasília foi criada no âmbito de um surto desenvolvimentista do país, nos anos 1950, e seguiu no seu projeto, aprovado em concurso internacional, as melhores especificações para o estabelecimento de uma nova maneira de viver, integrada à natureza e de acordo com a civilização do automóvel que se estabelecia sobre nosso planeta.
Embora não tenha até hoje sido completado, o projeto das superquadras, que deveriam se agrupar de oito em oito em Unidades de Vizinhança (nunca implantadas), com escolas fundamentais e infantis em cada uma delas, integradas à uma Escola Parque e à um clube em cada Unidade de Vizinhança, deveriam mesclar a modernidade e autonomia das unidades habitacionais, com a integração de seus moradores, promovendo o convívio harmônico através da educação e do lazer coletivo, e saudável, através do estímulo à prática de esportes.
Nada disso foi implantado, por temerem as elites da época que se tratasse de um projeto socialista, deixando os edifícios isolados nas superquadras, e dentro deles a solidão dos seus habitantes.
Mais grave ainda foi a implantação das chamadas cidades satélites do novo Distrito Federal, construídas para abrigar os pobres, quando o Plano Piloto, a parte projetada por Lúcio Costa, ainda estava no seu início, cheio de quadras vazias que podiam abrigar os trabalhadores.
Mas, uma vez mais as velhas elites entenderam que a cidade projetada para ser uma vitrine do novo Brasil que surgia, não devia ser enfeiada com a pobreza em que viviam os trabalhadores e que o melhor era escondê-los dos olhos do mundo em outras “cidades”, bem distantes do explendor arquitetônico das obras esculturais de Oscar Niemeyer.
Estas cidades passaram a ser chamadas cidades satélites, pois orbitavam em torno ao Plano Piloto (considerado até hoje como a verdadeira Brasília), como o sputnik, primeiro satélite artificial lançado ao espaço pelos russos em 1957, orbitava em volta da Terra.
Muitas surgiram desde então. As primeiras foram o Gama, assentamento criado a partir do projeto hexagonal de MM Roberto, que participou do concurso internacional para a escolha do Plano Piloto (vencido por Lúcio Costa), localizado na antiga fazenda do Gama, cuja sede ainda existe, preservada pelo patrimônio Histórico. 


O projeto de MMM Roberto para Brasília previa 7 hexágonos.
Um deles foi implantado para formar a cidade satélite do Gama
 
Na mesma época surgiu Taguatinga, na saída sul da cidade, Sobradinho, na saída norte, também construída na fazenda de mesmo nome, e Planaltina, antiga cidade colonial e sede de município que ficou dentro do quadrilátero do novo Distrito Federal. Parte do seu antigo território, porém, ficou fora do novo DF constituindo o município agora denominado Planaltina de Goiás.

Av. Comercial de Taguatinga em 1958

Av. Comercial de Taguatinga atualmente
Logo após a transferência oficial da Capital da Republica para Brasília, em 21 de abril de 1960, o projeto de um deputado federal transformou o antigo acampamento de obras denominado Cidade Livre, em mais uma cidade satélite. A antiga Cidade livre foi riscada no chão pelo engenheiro Bernardo Sayão, na época chefe da NOVACAP, a Companhia Construtora da Nova Capital, estatal criada para construir Brasília. Eram apenas três ruas onde qualquer um podia chegar e construir, sem nenhuma licença ou projeto, de forma a facilitar o assentamento de trabalhadores que chegavam (os “candangos”) e as empresas que quisessem prestar serviços no local. A ideia era que após a inauguração da capital tudo fosse removido mas, por pressão dos comerciantes estabelecidos no local, a Câmara Federal aprovou um projeto fixando definitivamente o assentamento com o nome de Núcleo Bandeirante.

 A Cidade Livre nos seus primórdios
Os barracos de madeira foram obrigados, então, a serem desmontados e reconstruídos dentro de lotes demarcados ao longo das três ruas, agora denominadas de Primeira Avenida, Segunda Avenida e Avenida Central, nomes que permanecem até hoje. Essa reconstrução dos barracos seguiu uma rígida tipologia imposta pela Novacap, com modelos de dois pavimentos, para as lojas comerciais e térreos para as residências, semelhantes aos utilizados na Avenida W3 sul, no Plano Piloto.
Os que não quiseram permanecer no local ganharam lotes na W3 Norte, que acabava de ser asfaltada, utilizando a mesma tipologia arquitetônica.
Em seguida, já durante o regime militar, foram criadas as cidades satélites do Guará, grande conjunto habitacional construído pelo recém-criado Banco Nacional de habitação, o BNH, situado às margens da estrada que liga o Plano Piloto à Taguatinga, e a Ceilândia, cidade criada pela CEI, Comissão de Erradicação de Invasões especificamente para erradicar a famosa Invasão do IAPI e sua vizinha, apelidada de Morro do Urubu, situadas em frente ao novo Núcleo Bandeirante.
Posteriormente nos três governos de Joaquim Roriz, já nas décadas de 1980 e 90, foram criadas as cidades de Samambaia, vizinha à Taguatinga e Ceilandia, formando um gigantesco núcleo habitacional, e Recanto das Emas, entre a BR-40, saída para Goiânia e o Gama. Na verdade o governador Roriz (nomeado por José Sarney quando ainda não havia eleições diretas para governador do DF) usou a possibilidade de dispor de terras públicas do DF para distribuir lotes a migrantes de regiões circunvizinhas que ele estimulava a virem para Brasília, formando imensos currais eleitorais que o ajudaram a se eleger mais duas vezes governador após a nova Constituição de 1988.
Depois disso várias outras cidades ainda foram criadas, como o Paranoá, a partir de uma invasão existente no local, resultante de um antigo acampamento de obras e “regularizada” pelo GDF através de um novo projeto urbanístico. Muitos outros antigos acampamentos de construtoras, da época da Construção da capital, permaneceram ocupados e foram posteriormente regularizadas, como a Vila Planalto, próxima ao Palácio do Planalto, a Metropolitana e a Candangolândia, ambas próximas ao Núcleo Bandeirante, a Vila Telebrasília, às margens do lago paranoá, e outras, todas seguindo traçados urbanos projetados pelo GDF.

Núcleo bandeirante hoje:
Prédios colados com iluminação/ventilação feita através de poços

Essa profusão de pequenos assentamentos urbanos, no entanto, tem em comum um Código de Obras muito diferente do código do Plano Piloto, permitindo que um compartimento de permanência prolongada, como uma sala de estar, por exemplo, possa se abrir para um poço de ventilação de apenas 80 x 80 cm, formando aglomerações extremamente insalubres.

 Cozinha abrindo para poço de ventilação
Não bastasse a expulsão dos trabalhadores e a venda das superquadras para as incorporadoras imobiliárias, elevando o preço do m2 do Plano Piloto a um dos mais altos do mundo, a permanência de códigos de obras diferenciados no mesmo espaço urbano, diferenciando mais ainda trabalhadores de funcionários de alta renda e parlamentares que habitam a cidade planejada por Lúcio Costa.
No Plano Piloto ergue-se uma cidade de padrões internacionais, enquanto nas satélites, o código de obras diferenciado permitiu o surgimento de verdadeiras casbahs, aqueles amontoados de construções, típicos dos centros históricos das cidades árabes, com ruelas estreitas e habitações insalubres, num verdadeiro apartheid urbano.
Embora as satélites venham recebendo novos e grandes empreendimentos imobiliários, com padrões muito melhores, não se justifica a permanência de padrões diferenciados dentro da mesma unidade federativa.

POESIA DA SEMANA




Estrela do mar


Um pequenino grão de areia
Era um eterno sonhador
Olhando o céu viu uma estrela
Imaginou coisas de amor

Passaram anos, muitos anos
Ela no céu e ele no mar
Dizem que nunca o pobrezinho
Pôde com ela encontrar

 Se houve ou se não houve
Alguma coisa entre eles dois
Ninguém pôde até hoje afirmar
O fato é que depois, muito depois
Apareceu a estrela do mar


Marino Pinto




RAPIDINHAS

Palhaços


     Aécio Neves se declarou "líder das oposições", sem perceber que o grande vencedor das eleições, dentro do PSDB, foi José Serra, eleito senador por São Paulo derrotando Eduardo Suplicy.
     Enquanto isso, seu ex-vice, Aloísio Nunes, continua fazendo besteiras, estimulando os grupos de ultra direita a fazerem manifestações pelo impechmeant de Dilma e a volta dos militares.
     Dois palhaços.
     Pra quem não sabe, Aloísio Nunes foi da esquerda armada e lutou contra a ditadura assaltando bancos. Da extrema esquerda passou para a extrema direita. Enquanto isso Aécio se dedicava à sua boa vida de playboy, nas idas e vindas ao Rio de janeiro.
     Nenhum dos dois tem consistência para liderar as oposições, que aliás já não representam muita coisa. Os milhões de votos que eles tiveram foram muito mais anti PT do que à favor dele mesmo.
     PT que aliás, continua fazendo besteiras. Se não fosse a firmeza de Dilma o país tinha caído na mão dos aventureiros.

O triunfo da impunidade


     Bastou Joaquim Barbosa se afastar do STF e Ricardo Lewandovsky assumir, para que os mensaleiros fossem todos soltos.
     Aqueles que lideraram uma intensa campanha contra nosso ministro negro, agora estão calados, satisfeitos. Tudo voltou a ser como dantes no quartel de Abrantes. Gente rica e poderosa não fica na cadeia e a impunidade triunfa mais uma vez.

Tragédia mexicana

     O anúncio de que um prefeito mexicano, ligado ao tráfico de drogas, mandou assassinar 43 estudantes que protestavam por mais verbas para a educação, deixou o governo do presidente Peña Nieto em situação pior do que já estava.
     Nieto, um liberal ao estilo Aécio Neves, quebrou o monopólio do Petróleo no México (como FHC fez no Brasil) e partiu para a privatização, entregando o país à sanha do capital estrangeiro. Ele é o queridinho da revista The Economist, mas é cada vez mais odiado pelos mexicanos.
     Definitivamente o neoliberalismo naufraga no mundo inteiro. A Europa em crise prolongada é seu melhor exemplo, mas o FMI, atrelado aos interesses da banca internacional, insiste nas medidas de "ajuste fiscal", que provocam recessão, desemprego em massa e cortes nos programas sociais, jogando povos, antes ricos, na mais profunda miséria.

Dilma e a Petrobrás


      O escândalo na Petrobras é a grande chance para a presidente Dilma se afastar do PT e se colocar acima dos partidos. Claro que ela não pode romper completamente, pois deve muito à Lula, mas pode dar início ao processo de consulta popular sobre a reforma política, que deve desembocar numa grande reforma partidária. É a chance dela montar um novo partido com o que houver de melhor na base aliada, sem parecer ingrata.
     Aliás, se Dilma quiser dar uma virada histórica, recuperando a sua popularidade, basta passar o rodo nos corruptos, de todos os partidos, e decretar uma intervenção na CBF. 
     Popularidade 90% no dia seguinte.

RISOS

Piada contada: sogras

Ary Toledo