domingo, 8 de setembro de 2013

POLITICANDO

Mudando de rumo



     A revelação de que o programa de espionagem do governo norte-americano incluía o Palácio do Planalto, com todos os telefones e computadores da cúpula do governo brasileiro, provocou um estrago considerável na relação entre Brasil e Estados Unidos.
     É normal que as grandes potências mantenham informantes nas principais capitais do mundo, Brasília incluída, para que possam prever e, se possível, se antecipar às ações dos governos, sejam eles amigos ou inimigos.
     Geralmente essas equipes de informação trabalham nas embaixadas, lideradas pelo próprio embaixador, para manter seus governos informados sobre os rumos da política local, utilizando-se de agentes ou de informantes locais.
     Mas grampear telefones vai muito além do admissível, ainda mais com a extensão que vem sendo revelada pelo agente desertor Edward Snowden. Pior ainda, grampear todos os telefones e computadores da presidência da república, já deixa de ser uma atitude de buscar informações e passa a ser um ato hostil, digno dos piores inimigos.
     A demissão do Ministro Antonio Patriota, das relações exteriores, foi vista pelos jornais brasileiros como um reflexo da retirada clandestina do senador boliviano que estava asilado na embaixada brasileira em La Paz, na Bolívia.
     Mas muito mais do que isso, Dilma Roussef aproveitou a situação para retirar um chanceler que a seu ver era muito complacente, muito vaselina com os abusos cometidos pelos americanos.
     Está na hora de aumentar o tom de voz com eles. Não é mais possível fingir que não está acontecendo nada sem renunciar explicitamente a soberania brasileira.
     Claro que as origens dessa cara-de-pau americana vem dos tempos do governo Fernando Henrique, extremamente submisso a eles, que não esboçou qualquer reação quando da revelação que a embaixada brasileira em Washington havia sido vasculhada por escutas clandestinas.
     Os americanos entenderam, então, que podiam ir adiante e montaram no Brasil um escandaloso esquema de espionagem. Para isso devem ter se utilizada da Embratel, empresa que até o governo FHC era estatal e tinha o monopólio das ligações internacionais brasileiras, e que foi privatizada, sendo vendida justamente para um grupo norte-americano.
     A presidente Dilma pediu explicações oficiais ao governo americano e já ameaça com o cancelamento da visita oficial que faria aos Estados Unidos em outubro. As consequências podem ser ainda mais graves, com a reestatização da Embratel, única companhia telefônica a ter um satélite próprio, que seria reincorporada a renascida Telebrás.
     Barack Obama, com seu cinismo que já não engana ninguém, responde com evasivas, sorrisos e discursos bonitos, sem responder adequadamente às questões que estão colocadas.
     Para quem iniciou seu mandato despertando esperanças de mudança no comportamento da grande potência imperial, ele é realmente um fracasso e uma grande decepção. Cabe ao Brasil agora se levantar e mostrar que não está disposto a se calar diante de tal absurdo.
     É claro que não vamos nos tornar inimigos dos americanos, até porque isso seria extremamente perigoso e contraproducente, mas pode-se esperar um afastamento maior do Brasil da órbita da política norte-americana e um aprofundamento dos seus compromissos com os BRICS e com a América Latina, liderando, talvez o processo de afastamento de toda a América do Sul em direção a um caminho próprio.

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