segunda-feira, 29 de julho de 2013

DESTAQUE

Futurologia

     Tenho evitado escrever sobre a política de Rio de Contas, por puro desgosto.
     Muitos me pedem para escrever, desejando críticas afiadas contra uma situação à qual eles não tem coragem de se opor, e se calam, temendo as represálias que o poder local, concentrado numa pobre prefeitura, tem o dom de fazer desabar sobre as vidas dos cidadãos desta pequena localidade perdida na Chapada Diamantina.
     Todo mundo tem um parente que depende da prefeitura e que pode sofrer as consequências, caso resolva exercer sua cidadania de fato e dizer o que pensa à respeito da política local. Por isso se calam e ficam pedindo que outros falem por eles, enquanto ao primeiro aperto se urinam todos, como cães assustados.
     É uma situação patética. De um lado os pequenos poderes, surgidos do manejo do dinheiro público, obtido sempre às custas de compras de votos, de outro as confabulações na hora do voto, para decidir a quem se vender. Depois do resultado, quem saiu perdendo fica pelos cantos, se lamentando, remoendo o fato de ter entrado do lado errado, esperando um aceno da situação para fazer parte do pequeno grupo no poder, enquanto os que venceram tripudiam sobre os vencidos.
     Para fazer oposição, é preciso entrar debaixo da proteção de algum político poderoso, que resguarde a pessoa das perseguições. Se alguém tenta montar um grupo autêntico, desligado de políticos, logo aparecem as suspeitas sobre as reais intenções de um, que até ontem estava calado, mas caiu em desgraça e resolveu falar, ou então de possíveis informantes infiltrados, que participam de reuniões e correm a prestar contas ao outro lado, esperando com isso obter algum tipo de recompensa, mais uma vez como cães, tentando agradar seus donos lambendo seus pés.
     Nesse meio a falsidade brota como capim. Gente querendo saber, o que estou fazendo, fingindo amizades. Sabem que não dependo de favores de políticos e posso ter um pensamento independente, e temem a minha palavra, que o pequeno poder deste blog é capaz de levar longe, causando talvez algum prejuizo. Sabem que gosto de escrever e ficam de tocaia.
     Partidos políticos aqui não existem, são pura ficção. Só existem interesses de grupos, ou melhor, grupos de interesses.
     Claro que essa situação foi engendrada por uma história de coronelismo e opressão muito antiga.  
     Hoje se persegue os oponentes da prefeitura. Ontem os coronéis mandavam matar. Aliás, ainda se manda matar, como vimos há alguns anos atrás aqui mesmo no município, quando um sujeito resolveu abrir a boca e contar os podres da prefeitura, podres do qual ele mesmo participava.
     O que aconteceu com seus assassinos? Nada. Ninguém foi preso. Continuam no poder, ora de um lado, ora de outro. A justiça aqui também é política, influenciada pelos poderosos de plantão.
     Escrever o quê, sobre uma situação como esta? Falar mal de quem?
     A política é assim mesmo, eles dizem.
     Uma tristeza.
     Aproveito esta solidão local para ler e colocar em prática projetos literários há muito adormecidos. É realmente um lugar ótimo para se recolher e pensar sobre a vida, e escrever, sim, escrever. Claro que é melhor fazer isso quando temos alguém do lado para amar. Amar e escrever...que combinação boa para um escritor.
     Mas até isso é difícil num lugar como este, pois a pessoa amada não vive só de amor. Tem também seus projetos de vida, que não consegue construir numa sociedade como esta. Ninguém, aliás, consegue construir nada num lugar como este.
     As pessoas chegam, iludidas pelas belezas naturais, se estabelecem, ficam alguns anos, o tempo necessário para perceber que estão semeando em terreno árido, e se vão.
     Que futuro tem um lugar como este?
     Quando me perguntam, respondo que quem vai mudar a cidade são os que virão de fora, no dia em que alguma coisa vingar por aqui e a economia realmente começar a prosperar. Talvez com a vinda da prometida Universidade Federal, o dinheiro entre, libertando a todos da dependência da prefeitura. Com certeza algo terá que vir de fora, pois os grupos de interesse local não querem mudar nada.
     Por isso a Secretaria de Agricultura não tem interesse em desenvolver a agricultura. Vai que os agricultores comecem a ganhar dinheiro e se tornem independentes? Que perigo! O mesmo com o turismo. Não. Todos tem que continuar comendo na mão dos mesmos grupinhos. Uma coisa muito triste.
     Uma sociedade arcaica, sem dúvida, necessitando de um choque externo para mudar. Uma grande indústria, uma universidade, algo que promova a abolição da escravidão exercida pelos eternos coroneizinhos no poder.

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