segunda-feira, 1 de abril de 2013

POLITICANDO

Uma política de desenvolvimento para a Bahia

     Pelo facebook, vi a postagem do deputado Valdenor Cordeiro de que uma fábrica de aerogeradores será instalada na Bahia, em Camaçari. Nos comentários perguntei a ele porque todas as fábricas na Bahia são direcionadas sempre para a região metropolitana de Salvador, concentrando mais e mais a produção industrial em torno à capital, que já sofre com o crescimento desordenado, o caos no trânsito e todas as mazelas das grandes metrópoles.
     Claro que ele não respondeu nada. Sabemos que não são os deputados que postam as notícias nas redes sociais, mas seus assessores, que não tem tempo ou não se preocupam em responder aos comentários. É uma via de mão única.
     Nós, aqui na região sudoeste padecemos de uma falta crônica de empregos. Temos uma boa infraestrutura de estradas, cidades razoavelmente desenvolvidas, mas as indústrias não vem pra cá.   
     Tudo cresce em volta de Salvador, como um câncer, que vai destruindo os recursos naturais daquela região, atraindo cada vez mais gente, agravando cada vez mais os problemas da grande cidade e do seu entorno, enquanto o interior permanece abandonado.
     Esta é uma política secular (sobre isto veja o livro A Bahia no Século XIX: uma província no império, de Kátia Mattoso) que vem desde o tempo da colônia, quando Salvador era um entreposto de exportação, uma cidade essencialmente mercantil, que gerou uma poderosa burguesia de comerciantes que domina a política do Estado, impedindo que a riqueza circule por outras regiões da Bahia.
     Mesmo hoje, Salvador não é uma cidade industrial, mas uma poderosa praça comercial, e suas elites, que dominam até hoje a política baiana, fazem questão que a riqueza circule apenas por lá, nas suas agências bancárias, através do seu porto, para que eles continuem lucrando em detrimento do restante do território que permanece abandonado. Para isso querem que as indústrias sejam alocadas sempre nos muncípios vizinhos.
     A excessão a esta regra foi a construção do porto de Ilhéus, na década de 1930, fruto de uma longa luta dos cacauicultores da região sul, que tiveram que enfrentar o lobby poderoso dos mercadores de Salvador, que queriam que toda a exportação se fizesse pelo porto de lá.
     Depois, na década de 1990, o governo de Paulo Souto iniciou uma política de descentralização industrial, instalando pólos calçadistas no interior, política logo revertida pelos governos que os seguiram, inclusive o de Jaques Wagner.
     Até quando? O oeste do estado se tornou uma potência agrícola, mas não recebe os investimentos que deveria para se desenvolver. Quando se fala em escoamento da safra de soja, logo aparecem os projetos de hidrovias e ferrovias para escoá-la para o porto de Salvador. Sempre Salvador. A FIOL, Ferrovia de Integração Oeste Leste, é uma obra estratégica do governo federal que integra o oeste produtivo ao porto de Ilhéus, mas é um projeto gestado em Brasília. Se dependesse do governo da Bahia fariam a ferrovia para Salvador.
     Os projetos de emancipação do Estado de São Francisco, no oeste, e do Estado de Santa Cruz, no sudoeste, que volta e meia emergem no imaginário dessas regiões, são resultados deste descaso, resultado da ausência de uma política de desenvolvimento que abranja todo o território.
     A própria política de desenvolvimento urbano da capital, parece estar 50 anos atrasada em relação às outras capitais brasileiras. Enquanto Rio e São Paulo iniciam a demolição dos seus elevados, gigantescos viadutos que permitem a agilização do tráfego de automóveis, Salvador se orgulha de estar construindo sua Via Expressa, ligando por cima o porto de Salvador à BR-324, enquanto cidades como Fortaleza, Recife e Vitória já tiraram os portos do centro da cidade há muito tempo, construindo portos em áreas litorâneas próximas.
     Está tudo errado no planejamento urbano de Salvador e na ausência de planejamento territorial da Bahia. O que existe são projetos pontuais, desconectados entre si, que não fazem parte de uma política de desenvolvimento para todo o território.
      A UFBA, principalmente através de suas faculdades de Arquitetura e Urbanismo, Geografia e Economia, que poderiam dar uma boa contribuição a um debate nesta direção, parece presa a velhos parâmetros, construídos sobre ilusões chauvinistas de que Salvador é linda e admirada pelo mundo inteiro. Não querem ver que a cidade virou uma grande favela e está se tornando inviável, pela cegueira e egoísmo de suas elites retrógradas que teimam em tratar o interior como sua área de lazer.
     Quem sabe nos debates para as eleições de 2014, estas questões venham à tona e a Bahia finalmente entre no século XXI.
    

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