segunda-feira, 29 de abril de 2013

DESTAQUE

Uma linda visita à nova casa de meus pais
     Perdi meu pai em abril de 2007 e minha mãe em maio de 2012.
     Desde que minha mãe morreu tenho sonhado muito com ela e sentido muito a sua morte. O luto realmente é um longo período, necessário para que nos desliguemos dos que partiram e também para analisar nossos erros e acertos na relação com aquela pessoa, as dificuldades, relembrar as alegrias e tristezas, passar à limpo o período de convivência que tivemos nesta terra.
     Logo após sua morte, sonhava sempre com ela, da mesma forma que se passou com meu pai, mas com mais intensidade, já que sempre fomos muito mais próximos, e fiquei responsável por ela nos seus últimos anos, embora dividindo minhas responsabilidades com uma filha que ainda precisava de mim em Vitória da Conquista.
     Sua partida foi repentina, Tinha um câncer insuspeitado.  Apesar de todos os exames que fazíamos, ninguém se lembrou de verificar o pâncreas, e quando vimos já era tarde.
     Nos primeiros meses chorava muito sempre que ia ao centro espírita, me sentindo culpado por não ter ficado sempre ao seu lado e sentindo muito a presença dela. Mas depois fui serenando e me convencendo que não poderia ser de outro jeito.
     Até que sua lembrança começou a ser uma coisa boa, sem dor. Não sentia mais a sua presença a meu lado e fazia muitas orações para que ela estivesse bem, lá do outro lado.
     Mas no dia 23 de abril, dia de São Jorge, fui dormir depois do almoço, como sempre faço, e tive a impressão de acordar num amplo apartamento, todo pintado de cor de tijolo, cor que ela gostava, só que em tons mais suaves.
     Saí do quarto onde despertara e me vi num hall, também amplo, para onde davam as portas de outros cômodos. Imediatamente reconheci a planta do apartamento em que vivemos durante 12 anos em Brasília, só que mais amplo e mais bonito. As paredes estavam todas decoradas com pinturas e estantes com enfeites, do jeito que ela gostava. Minha mãe colecionava pequenos enfeites que sempre trazíamos para ela das viagens que fazíamos, eu e meu irmão.
      Passei à sala, muito ampla, que se abria através de uma porta de vidro larga para uma varanda grande, toda decorada com vasos de plantas. A parede oposta à porta da varanda era toda recoberta por estantes cheias de livros e no meio delas havia um nicho com uma poltrona, onde meu pai estava sentado, lendo, como gostava de fazer no seu escritório em Brasília.
     Falei com ele, que me respondeu com muita tranquilidade, como se soubesse que eu estava ali de visita e estivera apenas cochilando. Elogiei o apartamento e ele foi me mostrar a varanda, que era fechada com lascas de madeira envernizadas e onde havia também uma poltrona e uma lareira, que queimava umas achas de lenha estranhamente brancas.
     Ao olhar para fora, percebi que a varanda, assim como todo o apartamento, eram térreos, dando para um amplo jardim onde minha mãe estava ocupava com muitas flores e plantas, atividade que ela sempre adorou.
     Fui falar com ela, que me mostrou tudo e depois me levou a uma sala de jogos no final do jardim, situado num grande pátio interno de um edifício, para o qual se abriam também janelas de outros apartamentos. Mas só o deles tinha acesso ao jardim.
     A sala de jogos era toda de vidro, cercada de plantas e coberta com algo parecido com palha, ou uma cobertura rústica. Fiquei admirado ao ver uma mesa de jogos coberta de feltro verde, parecida com a que tínhamos na casa de Brasília, onde eles passavam as noites com os amigos em animados torneios de buraco.
     Subitamente me dei conta de que algo ali não era normal e disse a minha mãe que tinha visto meu pai na sala. Ela continuou mexendo nas suas plantas e apenas me observou com olhos pacientes.
     Elogiei o apartamento e disse que queria comprar um ali também. Ela me olhou novamente e sorriu. Insisti, perguntando a ela como meu pai podia estar ali se ele havia morrido. Ela então parou, me olhou e disse: bem, ele está ali, mas não é em carne e osso e continuou suas tarefas.
     Subitamente acordei. Estava em meu quarto em Rio de Contas e tive a certeza de ter estado com eles, que juntos agora desfrutam tranquilamente de uma nova vida, continuando uma convivência que na terra durou 62 anos.
     

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