domingo, 3 de fevereiro de 2013

POESIA DA SEMANA

ANNE SEXTON

   ANNE SEXTON (Newton, 1928 – Weston, 1974) foi uma notável poetisa americana conhecida principalmente pela sua poesia de forte pendor confessional, através da qual abordou temas invulgares como a depressão, de que padecia, e as suas próprias tendências suicidas, bem como assuntos igualmente pouco frequentes na poesia americana à altura como a biologia intíma da mulher. Sexton venceu o Pulitzer em 1967. Tal como Sylvia Plath, foi aluna de Robert Lowell, um mestre da poesia confessional. Suicidou-se a 4 de Outubro de 1974, após um almoço com a sua amiga Maxine Kumin, onde estivera a rever o seu manuscrito The Awful Rowing Toward God, que viria a ser publicado em Março do ano seguinte. Regressando a casa, vestiu o casaco de peles da mãe e fechou-se na garagem com o automóvel ligado. 
Tradução de Jorge Sousa Braga ( para o blog "Poesia ilimitada")
 
Em Celebração do meu útero

Tudo em mim é um pássaro. 
Adejo com todas as minhas asas. 
Queriam extirpar-te 
mas não o farão. 
Diziam que estavas incomensuravelmente vazio 
mas não estás. 
Diziam que estavas doente prestes a morrer 
mas estavam errados. 
Cantas como uma colegial 
Tu não estás desfeito.
Doce peso, 
em celebração da mulher que sou 
e da alma da mulher que sou 
e da criatura central e do seu prazer 
canto para ti. Atrevo-me a viver. 
Olá, espírito. Olá, taça. 
Fixar, cobrir. Cobre o que contém. 
Olá, terra dos campos. 
Bem-vindas, raízes.
Cada célula tem uma vida. 
Há aqui bastantes para satisfazer uma nação. 
Chega que a populaça possua estes bens. 
Qualquer pessoa, qualquer grupo diria: 
Está tudo tão bem este ano que podemos plantar de novo 
e pensar noutra colheita. 
Uma praga tinha sido prevista e foi eliminada. 
Por isso muitas mulheres cantam em uníssono: 
uma numa fábrica de sapatos amaldiçoando a máquina, 
uma no aquário cuidando da foca, 
uma aborrecida ao volante do seu FORD, 
uma cobradora na portagem, 
uma no Arizona enlaçando um bezerro, 
uma na Rússia com uma perna de cada lado do violoncelo, 
uma trocando panelas num fogão no Egipto, 
uma pintando da cor da lua as paredes do quarto, 
uma no seu leito de morte mas recordando um pequeno almoço, 
uma na Tailândia deitada na esteira, 
uma limpando o rabo ao seu bebé, 
uma olhando pela janela do comboio, 
no meio do Wyomming e uma está 
em qualquer lado e algumas estão em todo o lado e todas 
parecem estar cantando, embora haja quem 
não possa cantar uma nota sequer.
Doce peso 
em celebração da mulher que sou 
deixa-me levar uma echarpe de três metros, 
deixa-me tocar o tambor pelas que têm dezanove anos, 
deixa-me levar taças para oferecer 
(se é isso o que me toca). 
deixa-me estudar o tecido cardiovascular, 
deixa-me calcular a distância angular dos meteoros, 
deixa-me chupar o pecíolo das flores 
(se é isso o que me toca). 
Deixa-me imitar certas figuras tribais 
(se é isso o que me toca). 
Pois o corpo preciso disso, 
que me deixes cantar 
para a ceia, 
para o beijo, 
para a correcta 
afirmação. 


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